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Humor e Risada

A RISADA TEM VITAL IMPORTÂNCIA NAS INTERAÇÕES SOCIAIS. O HUMOR E O RISO PODEM SER USADOS PARA INFLUENCIAR E MODIFICAR AS ATITUDES E COMPORTAMENTOS DAS PESSOAS

 

O humor e o riso são de vital importância nas interações sociais e ocorrem em contextos em que papéis e status hierárquico entre indivíduos são interpretados e reinterpretados, podendo ser usados para influenciar e modificar as atitudes e comportamentos das pessoas. Existem, por exemplo, os “risos educados”, risadas que são emitidas logo após as dos outros, que podem reforçar a comunicação e a cooperação social. Pesquisadores documentaram esse comportamento entre grandes macacos e chimpanzés, que pode servir como forma de reco- nhecer coisas que todos os membros de um grupo acham engraçado. Existem diferentes tipos de riso, segundo estudos em neurociências sobre o comportamento de rir en- tre grupos de primatas humanos e não humanos. A pesquisadora Diana Szameitat escaneou o cérebro de su- jeitos humanos enquanto emitiam risadas de diferentes tipos, como risos alegres, de provocações e risadas produzidas através de cócegas. A neurocientista descobriu que existe uma “rede de percepção do riso”, que exibe distinções nos circuitos neurais envolvidos entre o riso emocional (como o riso de cócegas) e o não emocional (como o riso alegre e o relacionado à provocações), sendo que a risada emocional comunica mais informações sobre a situação social.

A importância da risada na construção de conexões sociais também foi estudada nos chimpanzés. Tanto os seres humanos como outros primatas têm o comportamento de repetir as risadas de outros como forma de construir laços sociais, mesmo quando não estão no mesmo estado emocional. Marina Davila-Ross realizou investigações em quatro grupos diferentes de chimpanzés quanto aos seus comportamentos de brincar e risadas. A pesquisadora identificou três categorias de risadas em cada grupo, as repetições rápidas, as repetições atrasadas e as risadas espontâneas. Ela verificou o que pode ser chamado de comportamento de risa- da congruente, no qual os chimpanzés riem após o riso de seus parceiros de brincadeira e ficam em silêncio quando esses companheiros ficam em silêncio.

 

EXISTEM DIFERENTES TIPOS DE RISO, SEGUNDO ESTUDOS EM NEUROCIÊNCIAS SOBRE O COMPORTAMENTO DE RIR ENTRE GRUPOS DE PRIMATAS HUMANOS E NÃO HUMANOS

 

Quando o riso era repetido, os chimpanzés também brincavam mais juntos. A risada, portanto, pode ser concebida como forma de estimular a comunicação social, a empatia e a cooperação entre os membros de um grupo. O padrão de risadas dos chimpanzés é muito semelhante ao riso exibido em uma conversa entre os seres humanos.

 

As pesquisas de Davila-Ross também salientaram um uso diferente da risada. Ao comparar o comportamento de colônias recentemente formadas e de colônias de chimpanzés de longa data, foi observado que os grupos de colônias novas, com membros menos familiares entre si, foram os que mais repetiam as risadas de seus companheiros de brincadeira. Isso aponta que quando os parceiros sociais ainda não se conhecem bem o riso se torna mais saliente como instrumento de coesão social.

O riso é provavelmente muito antigo na evolução, remontando aos grandes primatas e outros animais. No entanto, a narração de piadas, baseada em idiomas, tem uma origem mais recente na linhagem humana. Na comunicação baseada na linguagem, tanto o orador como o ouvinte estão envolvidos em um processo de compreensão mútua das intenções (estados mentais). Uma conversa precisa de no mínimo três ordens de intencionalidade, quando envolve entender o estado mental seu, do outro e ainda de uma terceira parte. A mentalização, ou atribuição de estados mentais, é cognitivamente exigente e existem limites de capacidade, em geral de cinco ordens nos níveis de intencionalidade, em que humanos adultos normais podem trabalhar.

Segundo o neurocientista Robin Dunbar, as piadas verbais geralmente envolvem comentários sobre os estados mentais de terceiros, e cada um desses estados acrescenta um nível adicional de intencionalidade. Dunbar determinou o número de níveis de mentalização em uma amostra de piadas contadas por conhecidos comediantes prof issionais e verificou que a maioria das piadas envolve três ou cinco ordens de intencionalidade por parte do comediante, dependendo se a piada envolve ou não estados mentais de outros indivíduos. Segundo Dunbar, existe uma correlação positiva entre níveis crescentes de intencionalidade e classificações subjetivas de como as piadas são engraçadas.

 

A qualidade das piadas parece ter um pico quando inclui cinco a seis níveis de intencionalidade, o que sugere que o público aprecia uma complexidade mental maior, mas dentro de seus limites de capacidade de processamento.

O humor e a risada são um assunto sério quando se trata de pesquisas em neurociências, pois abrem a possibilidade de uma compreensão mais profunda sobre os mecanismos sociais da mente humana.

Referências:

 

JAMES, Christine A. The neurological research on laughter: social context, joys, and taunts. Israeli Journal for Humor Research, v. 7 issue, n. 18, ago. 2018.

 

DAVILA-ROSS, Marina et al. Aping expressions? Chimpanzees produce distinct laugh types when responding to laughter of others. Emotion, v. 11, n. 5, p. 1013-1020, 2011.

 

SZAMEITAT, Diana P. et al. It is not always tickling: distinct cerebral responses during perception of different laughter types. Neuroimage, n. 53, p. 1264-1271, 2010.

 

DUNBAR, Robin; LAUNAY, Jacques; CURRY, Oliver. The complexity of jokes is limited by cognitive constraints on mentalizing. Human Nature, v. 27, n. 2, p. 130-140, jun. 2016.

 

Marco Callegaro é psicólogo, mestre em Neurociências e Comportamento, diretor do Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (ICTC) e do Cognitiva Scientia. Autor do livro premiado O Novo Inconsciente: Como a Terapia Cognitiva e as Neurociências Revolucionaram o Modelo do Processamento Mental (Artmed, 2011).

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A RISADA TEM VITAL IMPORTÂNCIA NAS INTERAÇÕES SOCIAIS. O HUMOR E O RISO PODEM SER USADOS PARA INFLUENCIAR E MODIFICAR AS ATITUDES E COMPORTAMENTOS DAS PESSOAS

 

O humor e o riso são de vital importância nas interações sociais e ocorrem em contextos em que papéis e status hierárquico entre indivíduos são interpretados e reinterpretados, podendo ser usados para influenciar e modificar as atitudes e comportamentos das pessoas. Existem, por exemplo, os “risos educados”, risadas que são emitidas logo após as dos outros, que podem reforçar a comunicação e a cooperação social. Pesquisadores documentaram esse comportamento entre grandes macacos e chimpanzés, que pode servir como forma de reco- nhecer coisas que todos os membros de um grupo acham engraçado. Existem diferentes tipos de riso, segundo estudos em neurociências sobre o comportamento de rir en- tre grupos de primatas humanos e não humanos. A pesquisadora Diana Szameitat escaneou o cérebro de su- jeitos humanos enquanto emitiam risadas de diferentes tipos, como risos alegres, de provocações e risadas produzidas através de cócegas. A neurocientista descobriu que existe uma “rede de percepção do riso”, que exibe distinções nos circuitos neurais envolvidos entre o riso emocional (como o riso de cócegas) e o não emocional (como o riso alegre e o relacionado à provocações), sendo que a risada emocional comunica mais informações sobre a situação social.

A importância da risada na construção de conexões sociais também foi estudada nos chimpanzés. Tanto os seres humanos como outros primatas têm o comportamento de repetir as risadas de outros como forma de construir laços sociais, mesmo quando não estão no mesmo estado emocional. Marina Davila-Ross realizou investigações em quatro grupos diferentes de chimpanzés quanto aos seus comportamentos de brincar e risadas. A pesquisadora identificou três categorias de risadas em cada grupo, as repetições rápidas, as repetições atrasadas e as risadas espontâneas. Ela verificou o que pode ser chamado de comportamento de risa- da congruente, no qual os chimpanzés riem após o riso de seus parceiros de brincadeira e ficam em silêncio quando esses companheiros ficam em silêncio.

 

EXISTEM DIFERENTES TIPOS DE RISO, SEGUNDO ESTUDOS EM NEUROCIÊNCIAS SOBRE O COMPORTAMENTO DE RIR ENTRE GRUPOS DE PRIMATAS HUMANOS E NÃO HUMANOS

 

Quando o riso era repetido, os chimpanzés também brincavam mais juntos. A risada, portanto, pode ser concebida como forma de estimular a comunicação social, a empatia e a cooperação entre os membros de um grupo. O padrão de risadas dos chimpanzés é muito semelhante ao riso exibido em uma conversa entre os seres humanos.

 

As pesquisas de Davila-Ross também salientaram um uso diferente da risada. Ao comparar o comportamento de colônias recentemente formadas e de colônias de chimpanzés de longa data, foi observado que os grupos de colônias novas, com membros menos familiares entre si, foram os que mais repetiam as risadas de seus companheiros de brincadeira. Isso aponta que quando os parceiros sociais ainda não se conhecem bem o riso se torna mais saliente como instrumento de coesão social.

O riso é provavelmente muito antigo na evolução, remontando aos grandes primatas e outros animais. No entanto, a narração de piadas, baseada em idiomas, tem uma origem mais recente na linhagem humana. Na comunicação baseada na linguagem, tanto o orador como o ouvinte estão envolvidos em um processo de compreensão mútua das intenções (estados mentais). Uma conversa precisa de no mínimo três ordens de intencionalidade, quando envolve entender o estado mental seu, do outro e ainda de uma terceira parte. A mentalização, ou atribuição de estados mentais, é cognitivamente exigente e existem limites de capacidade, em geral de cinco ordens nos níveis de intencionalidade, em que humanos adultos normais podem trabalhar.

Segundo o neurocientista Robin Dunbar, as piadas verbais geralmente envolvem comentários sobre os estados mentais de terceiros, e cada um desses estados acrescenta um nível adicional de intencionalidade. Dunbar determinou o número de níveis de mentalização em uma amostra de piadas contadas por conhecidos comediantes prof issionais e verificou que a maioria das piadas envolve três ou cinco ordens de intencionalidade por parte do comediante, dependendo se a piada envolve ou não estados mentais de outros indivíduos. Segundo Dunbar, existe uma correlação positiva entre níveis crescentes de intencionalidade e classificações subjetivas de como as piadas são engraçadas.

 

A qualidade das piadas parece ter um pico quando inclui cinco a seis níveis de intencionalidade, o que sugere que o público aprecia uma complexidade mental maior, mas dentro de seus limites de capacidade de processamento.

O humor e a risada são um assunto sério quando se trata de pesquisas em neurociências, pois abrem a possibilidade de uma compreensão mais profunda sobre os mecanismos sociais da mente humana.

Referências:

 

JAMES, Christine A. The neurological research on laughter: social context, joys, and taunts. Israeli Journal for Humor Research, v. 7 issue, n. 18, ago. 2018.

 

DAVILA-ROSS, Marina et al. Aping expressions? Chimpanzees produce distinct laugh types when responding to laughter of others. Emotion, v. 11, n. 5, p. 1013-1020, 2011.

 

SZAMEITAT, Diana P. et al. It is not always tickling: distinct cerebral responses during perception of different laughter types. Neuroimage, n. 53, p. 1264-1271, 2010.

 

DUNBAR, Robin; LAUNAY, Jacques; CURRY, Oliver. The complexity of jokes is limited by cognitive constraints on mentalizing. Human Nature, v. 27, n. 2, p. 130-140, jun. 2016.

 

Marco Callegaro é psicólogo, mestre em Neurociências e Comportamento, diretor do Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (ICTC) e do Cognitiva Scientia. Autor do livro premiado O Novo Inconsciente: Como a Terapia Cognitiva e as Neurociências Revolucionaram o Modelo do Processamento Mental (Artmed, 2011).

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