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UMA INFÂNCIA TRAUMÁTICA AUMENTA O RISCO DE DESENVOLVER TRANSTORNOS DE ANSIEDADE MAIS TARDE NA VIDA. É NESSA FASE QUE AS EXPERIÊNCIAS MOLDAM O CÉREBRO PARA APRIMORAR AS RESPOSTAS DO CORPO ÀS AMEAÇAS PERCEBIDAS
Ter uma infância traumática aumenta o risco de uma pessoa desenvolver transtornos de ansiedade mais tarde na vida. A exposição à adversidade na primeira infância aumenta a vulnerabilidade a vários transtornos psiquiátricos ao longo do desenvolvimento. Homens e mulheres parecem ser afetados diferentemente pelos traumas, sendo as mulheres mais propensas a desenvolver distúrbios, incluindo ansiedade e depressão. De fato, pesquisas anteriores revelaram que a adversidade no início da vida modifica permanentemente circuitos de processamento cerebral e produz consequências em longo prazo, como déficits na regulação emocional e cognição.
Duas áreas do cérebro que são cruciais no funcionamento dos circuitos cerebrais relacionados à ansiedade incluem a amígdala basolateral e o córtex pré-frontal medial. A amígdala é uma estrutura do tamanho de uma noz, alojada no lobo temporal, aproximada- mente na altura dos ouvidos. Ela está dividida em 12 núcleos, sendo o núcleo basolateral implicado na modulação de comportamentos relacionados à ansiedade, na recordação de informações emocionalmente salientes, na tomada de decisão e no comportamento direcionado a objetivos. Já na altura da testa encontra-se o córtex pré-frontal, que tem capacidade de inibir o excesso de atividade da amígdala, se o contexto indicar que não existe perigo real.
Um transtorno de ansiedade acontece quando os circuitos cerebrais que fazem a detecção de ameaças, em especial a amígdala, são ativados de forma exagerada por estímulos do ambiente que, na realidade, não envolvem um perigo iminente. A ansiedade patológi- ca é o acionamento indevido de todo um conjunto de respostas emocionais, fisiológicas e comportamentais para reagir a uma ameaça que é inexistente, ou foi percebida com exagero. Na infância, esses circuitos começam a funcionar e podem ser afetados pelas experiências iniciais, passando a exibir uma hiper-reatividade. Durante a infância e a adolescência, as experiências moldam o cérebro para aprimorar as respostas do corpo às ameaças percebidas, e as situações traumáticas podem deixar marcas equivalentes a cicatrizes emocionais, alterando para sempre os caminhos neurais de processamento.
Investigações realizadas anteriormente apontaram efeitos de traumas na modificação desses circuitos cerebrais. Por exemplo, pesquisas com crianças institucionalizadas durante os primeiros dois anos de vida em orfanatos revelaram que estas exibem desenvolvimento precoce das conexões entre a amígdala basolateral e o córtex frontal medial. No entanto, pouco se conhece sobre essas alterações, e aprender mais sobre como o cérebro responde a experiências traumáticas pode ajudar.
SEGUNDO NOVA PESQUISA, HOMENS E MULHERES PARECEM SER AFETADOS DIFERENTEMENTE PELOS TRAUMAS, SENDO AS MULHERES MAIS PROPENSAS A DESENVOLVER DISTÚRBIOS, INCLUINDO ANSIEDADE E DEPRESSÃO
A desenvolver melhores maneiras de prevenir ou tratar distúrbios de ansiedade em homens e mulheres que sofreram trauma na infância.
Um novo estudo com ratos procurou examinar as consequências de traumas na infância nos circuitos da ansiedade, e se existem diferenças entre fêmeas e machos. Nessa pesquisa foi demonstrado que os ratinhos que experimentam adversidade no início da vida desenvolvem conexões mais fortes entre a amígdala basolateral e o córtex pré-frontal, e que essas mudanças ocorrem mais cedo em ratos fêmeas. Nos experimentos, o trauma na infância foi a separação reiterada do rato em tenra idade de sua mãe e dos companheiros de ninhada. Um grupo de ratos foi repetidamente separado de suas mães e irmãos, enquanto um segundo grupo permanecia normalmente junto à família de roedores. Os neurocientistas então examinaram as conexões entre a amígdala basolateral e o córtex pré-frontal nos dois grupos em três períodos diferentes durante seu desenvolvimento: estágio juvenil, início da adolescência e final da adolescência. Os experimentos mostraram que conexões mais fortes entre a amígdala basolateral e o córtex pré-frontal começam a aparecer mais cedo em ratos jovens e fêmeas traumatizadas. Essas alterações neuronais não apareceram nos machos até a adolescência. Por fim, os ratos que desenvolveram essas conexões reforçadas também se comportaram mais ansiosamente mais tarde na vida. Esses resultados sinalizam que o momento ideal para intervenções pode ser diferente para machos e fêmeas. É necessário que se realizem mais pesquisas para verificar se esses resultados se aplicam em seres humanos, e assim desenvolver estratégias eficazes de intervenção específicas para indivíduos, com base em fatores como gêne- ro e época da exposição ao estresse dos traumas na infância.
Marco Callegaro é psicólogo, mestre em Neurociências e Comportamento, diretor do Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (ICTC) e do Cognitiva Scientia. Autor do livro premiado O Novo Inconsciente: Como a Terapia Cognitiva e as Neurociências Revolucionaram o Modelo do Processamento Mental (Artmed, 2011).
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UMA INFÂNCIA TRAUMÁTICA AUMENTA O RISCO DE DESENVOLVER TRANSTORNOS DE ANSIEDADE MAIS TARDE NA VIDA. É NESSA FASE QUE AS EXPERIÊNCIAS MOLDAM O CÉREBRO PARA APRIMORAR AS RESPOSTAS DO CORPO ÀS AMEAÇAS PERCEBIDAS
Ter uma infância traumática aumenta o risco de uma pessoa desenvolver transtornos de ansiedade mais tarde na vida. A exposição à adversidade na primeira infância aumenta a vulnerabilidade a vários transtornos psiquiátricos ao longo do desenvolvimento. Homens e mulheres parecem ser afetados diferentemente pelos traumas, sendo as mulheres mais propensas a desenvolver distúrbios, incluindo ansiedade e depressão. De fato, pesquisas anteriores revelaram que a adversidade no início da vida modifica permanentemente circuitos de processamento cerebral e produz consequências em longo prazo, como déficits na regulação emocional e cognição.
Duas áreas do cérebro que são cruciais no funcionamento dos circuitos cerebrais relacionados à ansiedade incluem a amígdala basolateral e o córtex pré-frontal medial. A amígdala é uma estrutura do tamanho de uma noz, alojada no lobo temporal, aproximada- mente na altura dos ouvidos. Ela está dividida em 12 núcleos, sendo o núcleo basolateral implicado na modulação de comportamentos relacionados à ansiedade, na recordação de informações emocionalmente salientes, na tomada de decisão e no comportamento direcionado a objetivos. Já na altura da testa encontra-se o córtex pré-frontal, que tem capacidade de inibir o excesso de atividade da amígdala, se o contexto indicar que não existe perigo real.
Um transtorno de ansiedade acontece quando os circuitos cerebrais que fazem a detecção de ameaças, em especial a amígdala, são ativados de forma exagerada por estímulos do ambiente que, na realidade, não envolvem um perigo iminente. A ansiedade patológi- ca é o acionamento indevido de todo um conjunto de respostas emocionais, fisiológicas e comportamentais para reagir a uma ameaça que é inexistente, ou foi percebida com exagero. Na infância, esses circuitos começam a funcionar e podem ser afetados pelas experiências iniciais, passando a exibir uma hiper-reatividade. Durante a infância e a adolescência, as experiências moldam o cérebro para aprimorar as respostas do corpo às ameaças percebidas, e as situações traumáticas podem deixar marcas equivalentes a cicatrizes emocionais, alterando para sempre os caminhos neurais de processamento.
Investigações realizadas anteriormente apontaram efeitos de traumas na modificação desses circuitos cerebrais. Por exemplo, pesquisas com crianças institucionalizadas durante os primeiros dois anos de vida em orfanatos revelaram que estas exibem desenvolvimento precoce das conexões entre a amígdala basolateral e o córtex frontal medial. No entanto, pouco se conhece sobre essas alterações, e aprender mais sobre como o cérebro responde a experiências traumáticas pode ajudar.
SEGUNDO NOVA PESQUISA, HOMENS E MULHERES PARECEM SER AFETADOS DIFERENTEMENTE PELOS TRAUMAS, SENDO AS MULHERES MAIS PROPENSAS A DESENVOLVER DISTÚRBIOS, INCLUINDO ANSIEDADE E DEPRESSÃO
A desenvolver melhores maneiras de prevenir ou tratar distúrbios de ansiedade em homens e mulheres que sofreram trauma na infância.
Um novo estudo com ratos procurou examinar as consequências de traumas na infância nos circuitos da ansiedade, e se existem diferenças entre fêmeas e machos. Nessa pesquisa foi demonstrado que os ratinhos que experimentam adversidade no início da vida desenvolvem conexões mais fortes entre a amígdala basolateral e o córtex pré-frontal, e que essas mudanças ocorrem mais cedo em ratos fêmeas. Nos experimentos, o trauma na infância foi a separação reiterada do rato em tenra idade de sua mãe e dos companheiros de ninhada. Um grupo de ratos foi repetidamente separado de suas mães e irmãos, enquanto um segundo grupo permanecia normalmente junto à família de roedores. Os neurocientistas então examinaram as conexões entre a amígdala basolateral e o córtex pré-frontal nos dois grupos em três períodos diferentes durante seu desenvolvimento: estágio juvenil, início da adolescência e final da adolescência. Os experimentos mostraram que conexões mais fortes entre a amígdala basolateral e o córtex pré-frontal começam a aparecer mais cedo em ratos jovens e fêmeas traumatizadas. Essas alterações neuronais não apareceram nos machos até a adolescência. Por fim, os ratos que desenvolveram essas conexões reforçadas também se comportaram mais ansiosamente mais tarde na vida. Esses resultados sinalizam que o momento ideal para intervenções pode ser diferente para machos e fêmeas. É necessário que se realizem mais pesquisas para verificar se esses resultados se aplicam em seres humanos, e assim desenvolver estratégias eficazes de intervenção específicas para indivíduos, com base em fatores como gêne- ro e época da exposição ao estresse dos traumas na infância.
Marco Callegaro é psicólogo, mestre em Neurociências e Comportamento, diretor do Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (ICTC) e do Cognitiva Scientia. Autor do livro premiado O Novo Inconsciente: Como a Terapia Cognitiva e as Neurociências Revolucionaram o Modelo do Processamento Mental (Artmed, 2011).
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